Lesão
de 5º metatarso no futebol. O que a biomecânica tem a ver com isso?
Felipe
P Carpes, Ph.D.
“É copa do mundo amigo.”
Estamos cansados de ouvir esse jargão,
não é? Assim como estamos cansados de saber que o esporte de alto rendimento
exige muito da estrutura física e mental de atletas. Em época de copa do mundo
se fala muito disso no futebol, mas sabemos que esses fatores estão presentes
em vários esportes. No futebol são diversos os fatores de risco para lesões. As
lesões mais comuns e que talvez possam ser mais facilmente explicadas por
comentaristas esportivos são as lesões musculares. Contudo, existem outras
lesões que requerem atenção de atletas, treinadores, fisioterapeutas e médicos.
Uma delas é a lesão do 5º metatarso. Essa lesão está associada com uma fratura
resultante de estresse. Com um grande volume de corrida em alta velocidade,
frenagens, mudanças de direção e saltos e aterrissagens, a região dos pés
recebe cargas mecânicas muito altas. Há muitos conhecidos que sofreram com essa
lesão nos últimos anos. Ela não é uma lesão tão comum, mas possui um efeito
muito importante (quase tirou um dos principais jogadores brasileiros da copa
da Rússia).
De olho nesse tema, e considerando
nossos estudos sobre a função dos pés na marcha e postura, algum tempo atrás
avaliamos padrões de pressão plantar em uma equipe de futebol formada por
jovens atletas, com idade média de 14 anos. Também avaliamos um grupo de não
atletas para comparação. Os resultados da primeira fase do estudo foram
publicados (Link do artigo) e mostraram que numa tarefa postural onde eles
precisavam apenas sustentar o peso do próprio corpo, os garotos que eram
atletas de futebol apresentavam maior pressão em algumas regiões do pé,
especialmente a região do 5º metatarso. Esse resultado nos intrigou, pois pode
sugerir que esses jovens experimentem mais pressão sobre uma região do pé do
que se espera para a idade eles. E mais, essa pressão se mostrou assimétrica,
sendo maior na perna não preferida, geralmente associada como sendo a perna de
“apoio” na maior parte das ações motoras do futebol, especialmente o chute.
Na segunda fase do nosso estudo (Link da dissertação), com resultados submetidos para publicação em um periódico da
área, investigamos se esses mesmos garotos jovens atletas mostram esses padrões
alterados de pressão plantar em ações dinâmicas, como correr, frear, mudar de
direção e saltar. Os resultados mostram que sim, pois em comparação com um
grupo que não treina futebol, a distribuição de pressão sobrecarrega a região
do 5º metatarso desses garotos. Sendo assim, podemos pensar que as lesões na
fase adulta estejam associadas com alterações mecânicas que começam muito cedo.
Tem como mudar isso para diminuir o
risco de uma lesão? Talvez sim. Seria bastante interessante desenvolver um
protocolo de treinamento dos músculos dos pés para verificar se o
fortalecimento deles pode ajudar a melhorar a dinâmica dos movimentos de forma
a melhor distribuir as cargas e com isso reduzir uma carga cumulativa nessa
região que reconhecidamente é lesionada em futebolistas. E aí, comente qual sua
opinião sobre essas ideias!
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