Isabel C N Sacco & Milla Dantas
Depto. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina da USP, São Paulo; LABIMPH

Uma das grandes inovações desse trabalho foi olhar para a neuropatia diabética como de fato esse processo de doença é: insidioso, sem fronteiras claras entre o estado de saúde e doença, e com progressão não marcadamente clara. Esse sistema Fuzzy de classificação da neuropatia fornece uma estimativa do grau de severidade da polineuropatia do paciente diabético a partir de um método de inteligência artificial baseado em informações clínicas. Ele foi desenvolvido para que profissionais da área da saúde possam utilizá-lo sem a necessidade de especialistas, e assim decidir a melhor conduta clínica de acordo com a condição do paciente com base no conhecimento de especialistas. É de acesso público e gratuito (www.usp.br/labimph/fuzzy).
Para a avaliação biomecânica da marcha, 60 indivíduos tiveram a cinemática das articulações do membro inferior mensurada e calculou-se a fase relativa contínua de pares articulares, buscando descrever as alterações nos padrões de coordenação intramembro durante todo o ciclo da marcha. Assim, tem-se uma segunda inovação desse trabalho na forma de analisar a marcha de diabéticos, dando um passo a frente das convencionais análises cinemáticas. Foram consideradas as alterações e compensações das demais articulações do membro inferior em conjunto por meio da fase relativa contínua, a qual é sensível para detecção de assimetrias na coordenação durante o movimento que, até então, pouco tinha sido utilizada na população diabética.
Os principais resultados mostram que a coordenação intramembro manifesta-se diferentemente dependendo da fase da marcha e da severidade da doença. A fase relativa contínua entre tornozelo e joelho foi sensível para diferenciar os graus de severidade neuropática, particularmente na fase da marcha em que o joelho e tornozelo assumem o papel chave de propulsionar o membro à frente ao final do apoio e início do balanço inicial. O padrão de coordenação entre tornozelo e quadril diferiu apenas os neuropatas moderados e severos dos controles, especialmente na transição da fase de apoio para balanço. Assim, tem-se que essa análise de coordenação permitiu identificar não só o tradicional par articular comprometido e que realiza compensações durante a locomoção para preservar a funcionalidade (tornozelo - quadril), mas passamos a ter um outro olhar para a articulação do joelho nesses diabéticos.
Este estudo e seus resultados permitiram alertar os estudiosos e os que intervém terapeuticamente nessa população que as alterações na coordenação da marcha são mais precoces do que se pensava, e mudanças na coordenação de tornozelo e joelho já ocorrem em estágios iniciais da neuropatia diabética.
Referência:
Título do trabalho: Intralimb Coordination Patterns in Absent, Mild, and Severe Stages of Diabetic Neuropathy: Looking Beyond Kinematic Analysis of Gait Cycle
Revista: PlosOne
Autores: Liu Chiao Yi, Cristina D. Sartor, Francis Trombini Souza, Isabel C. N. Sacco
Ano de publicação: 2016
doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0147300
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