segunda-feira, 6 de junho de 2016

COMPONENTES PASSIVOS MUSCULO-TENDÍNEOS EM TRIATLETAS

 Triatletas nadam, pedalam e correm em sequência. Contudo, a corrida do triatlo tem sido relacionada ao desempenho final em competicões. A segunda transicão (T2) envolve o término da etapa de ciclismo e o início da etapa de corrida. Porém, o desempenho na corrida subsequente ao ciclismo é reduzido quando comparado ao desempenho observado durante uma corrida isolada. Dentre os mecanismos sugeridos para esse quadro está o efeito do ciclismo sobre a biomecânica da corrida, com alguns autores sugerindo que a rigidez musculo-tendinea durante durante a corrida pode ser influenciada pelo ciclismo antecedente. É possível que triatletas tenham dificuldade para realizar a corrida após o ciclismo em funcão de possuírem elevado volume de ciclismo em relação a corrida, o que poderia resultar em menor adaptacão dos componentes musculo-tendineos a demanda imposta pela corrida. Contudo, até o momento parece não haver estudos na literatura investigando os efeitos do ciclismo e da corrida sobre a rigidez musculo-tendinea de triatletas, e estudos investigando a adaptacão de longo prazo de componentes musculo-tendineos a atividades de endurance foram realizados somente em corredores.
Esses estudos foram realizados com o objetivo de compreender os efeitos da corrida sobre o principal componente passivo do triceps sural, o tendão de Aquiles (TA), e possíveis diferencas nas características do TA entre indivíduos adaptados (e.g. corredores) e não adaptados. Esses estudos observaram que diferentes volumes de corrida não foram capazes de alterar a rigidez do TA e que corredores não apresentam diferencas significativas em seus TA em relacão a indivíduos não corredores. Curiosamente, quando a avaliacão de todos os componentes passivos dos flexores plantares foi realizada, diferencas foram observadas entre corredores e não corredores, sugerindo que essa pode ser uma alternativa mais abrangente para detectar adaptacões ao treinamento e até mesmo efeitos agudos do exercício. Com base nesses estudos, utilizamos avaliacões de torque passivo gerado pelo alongamento dos flexores plantares para investigar os efeitos da corrida e do ciclismo sobre os componentes passivos de triatletas. Ainda, investigamos possíveis diferencas entre triatletas e indivíduos não treinados. Avaliacões passivas de torque gerado pelos flexors plantares foram realizadas com o pé dos participantes fixados a plataforma de um dinamometro isocinético, que realizou o deslocamento do pé dos participantes a partir de 30 de flexão plantar até o máximo ângulo em dorsiflexao suportado, sem contracão por parte dos participantes (Figura 1). O torque gerado pelos componentes passivos durante o alongamento foi posteriormente utilizado para se estimar suas propriedades mecânicas tais como rigidez, energia mecânica armazenada e retornada.


Figura 1. Imagem ilustrativa do posicionamento dos participantes em relacão ao dinamômetro isocinético. Avaliacões de torque passivo foram realizadas de 30° de flexão plantar a máxima flexão dorsal.


Triatletas apresentaram reducão significativa da rigidez dos componentes passivos após testes máximos de ciclismo em comparacão a corrida e quando comparados a sujeitos destreinados. Ainda, observamos que triatletas possuem maior capacidade de armazenamento e dissipacão de energia em seus compomentes passivos. Esses resultados tem algumas implicacões para triatletas. O desempenho na corrida do triatlo é o estágio que define a colocacão final em competicões, e portanto uma reducão na rigidez musculo-tendinea poderia reduzir o desempenho durante a corrida como previamente sugerido. Ainda, considerando o maior volume de treinamento de ciclismo em relação a corrida de triatletas, é possível que as características de armazenamento e dissipação de energia sejam respostas a adaptacões primariamente induzidas pelo ciclismo. Considerando a possibilidade de monitoramento dessas características em triatletas por meio de dinamometria isocinética, a prevenção de lesões pode ser introduzida já que valores elevados de histerese (diference entre energia armazenada e dissipada) tem sido relacionados a incidência de lesão tendínea. É importante considerar que nossos resultados representam características de componentes passivos de todo o complexo musculo-tendíneo dos flexores plantares. Nesse sentido, futuros estudos devem incluir análises por meio de ultrassom/elastografia com o objetivo de complementar as avaliacões músculo-tendineas em atletas em diferentes porcões da undiade músculo-tendão.

Tiago C. Jacques, MSc
The Swedish School of Sport and Health Sciences
Grupo de Pesquisa em Biomecanica e Cinesiologia (GPBiC)
Grupo de Estudos e Pesquisa em ciclismo (GEPEC)


REFERÊNCIAS
Farris, D. J., G. Trewartha and M. P. Mcguigan (2011). "Could intra-tendinous hyperthermia during running explain chronic injury of the human Achilles tendon?" Journal of Biomechanics 44(5): 822.
Hug, F., K. Tucker, J. L. Gennisson, M. Tanter and A. Nordez (2015). "Elastography for Muscle Biomechanics: Toward the Estimation of Individual Muscle Force." Exercise and Sport Sciences Reviews 43(3): 125.
Kubo, K., D. Miyazaki, K. Yamada, H. Yata, S. Shimoju and N. Tsunoda (2015). "Passive and active muscle stiffness in plantar flexors of long distance runners." Journal of Biomechanics 48(10): 1937.
Maas, E., I. Jonkers, K. Peers and B. Vanwanseele (2014). "Achilles tendon adaptation and Achilles tendinopathy in running." OA Orthopaedics 1(3): 25.
Millet, G. P., G. Y. Millet, M. D. Hofmann and R. B. Candau (2000). "Alterations in running economy and mechanics after maximal cycling in triathletes: influence of performance level." International Journal of Sports Medicine 21(2): 127.

Vleck, V. E., A. Bürgi and D. J. Bentley (2006). "The consequences of swim, cycle, and run performance on overall result in elite olympic distance triathlon." International Journal of Sports Medicine 27(1): 43.

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