Triatletas nadam, pedalam e correm em sequência. Contudo, a corrida do
triatlo tem sido relacionada ao desempenho final em competicões. A segunda
transicão (T2) envolve o término da etapa de ciclismo e o início da etapa de
corrida. Porém, o desempenho na corrida subsequente ao ciclismo é reduzido
quando comparado ao desempenho observado durante uma corrida isolada. Dentre os
mecanismos sugeridos para esse quadro está o efeito do ciclismo sobre a biomecânica
da corrida, com alguns autores sugerindo que a rigidez musculo-tendinea durante
durante a corrida pode ser influenciada pelo ciclismo antecedente. É possível
que triatletas tenham dificuldade para realizar a corrida após o ciclismo em
funcão de possuírem elevado volume de ciclismo em relação a corrida, o que poderia
resultar em menor adaptacão dos
componentes musculo-tendineos a demanda imposta pela corrida. Contudo, até o
momento parece não haver estudos na literatura investigando os efeitos do
ciclismo e da corrida sobre a rigidez musculo-tendinea de triatletas, e estudos
investigando a adaptacão de longo prazo de componentes musculo-tendineos a atividades
de endurance foram realizados somente
em corredores.
Esses estudos foram realizados com o objetivo de compreender os efeitos
da corrida sobre o principal componente passivo do triceps sural, o tendão de
Aquiles (TA), e possíveis diferencas nas características do TA entre indivíduos
adaptados (e.g. corredores) e não adaptados. Esses estudos observaram que diferentes
volumes de corrida não foram capazes de alterar a rigidez do TA e que
corredores não apresentam diferencas significativas em seus TA em relacão a
indivíduos não corredores. Curiosamente, quando a avaliacão de todos os
componentes passivos dos flexores plantares foi realizada, diferencas foram
observadas entre corredores e não corredores, sugerindo que essa pode ser uma
alternativa mais abrangente para detectar adaptacões ao treinamento e até mesmo
efeitos agudos do exercício. Com base nesses estudos, utilizamos avaliacões de
torque passivo gerado pelo alongamento dos flexores plantares para investigar
os efeitos da corrida e do ciclismo sobre os componentes passivos de triatletas.
Ainda, investigamos possíveis diferencas entre triatletas e indivíduos não treinados.
Avaliacões passivas de torque gerado pelos flexors plantares foram realizadas
com o pé dos participantes fixados a plataforma de um dinamometro isocinético,
que realizou o deslocamento do pé dos participantes a partir de 30 de flexão
plantar até o máximo ângulo em dorsiflexao suportado, sem contracão por parte dos
participantes (Figura 1). O torque gerado pelos componentes passivos durante o
alongamento foi posteriormente utilizado para se estimar suas propriedades mecânicas
tais como rigidez, energia mecânica armazenada e retornada.
Figura 1. Imagem ilustrativa do posicionamento dos participantes em relacão ao dinamômetro isocinético. Avaliacões de torque passivo foram realizadas de 30° de flexão plantar a máxima flexão dorsal. |
Triatletas apresentaram reducão significativa da rigidez dos componentes
passivos após testes máximos de ciclismo em comparacão a corrida e quando
comparados a sujeitos destreinados. Ainda, observamos que triatletas possuem
maior capacidade de armazenamento e dissipacão de energia em seus compomentes
passivos. Esses resultados tem algumas implicacões para triatletas. O desempenho
na corrida do triatlo é o estágio que define a colocacão final em competicões,
e portanto uma reducão na rigidez musculo-tendinea poderia reduzir o desempenho
durante a corrida como previamente sugerido. Ainda, considerando o maior volume
de treinamento de ciclismo em relação a corrida de triatletas, é possível que
as características de armazenamento e dissipação de energia sejam respostas a
adaptacões primariamente induzidas pelo ciclismo. Considerando a possibilidade
de monitoramento dessas características em triatletas por meio de dinamometria
isocinética, a prevenção de lesões pode ser introduzida já que valores elevados
de histerese (diference entre energia armazenada e dissipada) tem sido relacionados a
incidência de lesão tendínea. É importante considerar que nossos resultados
representam características de componentes passivos de todo o complexo
musculo-tendíneo dos flexores plantares. Nesse sentido, futuros estudos devem incluir
análises por meio de ultrassom/elastografia com o objetivo de complementar as
avaliacões músculo-tendineas em atletas em diferentes porcões da undiade
músculo-tendão.
Tiago C. Jacques, MSc
The Swedish School of Sport and Health Sciences
Grupo de Pesquisa em Biomecanica e Cinesiologia (GPBiC)
Grupo de Estudos e Pesquisa em ciclismo (GEPEC)
REFERÊNCIAS
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