Nos Jogos Olímpicos deste
ano o mountain-bike (MTB) acontece nos próximos dias. Desde 1996 como parte dos
jogos, o MTB é um dos esportes que mais ganha praticantes no Brasil. Nos jogos
Rio2016 teremos três representantes: Raiza Goulão, Henrique Avancini e Rubens
Donizete (o mais experiente em jogos olímpicos, que disputa sua terceira
olimpíada consecutiva). O que assistiremos nos dias 20 (feminino) e 21 (masculino)
é o cross-country olímpico, ou XCO. No XCO os atletas correm em um circuito (o
da Rio2016 tem cerca de 4,85 km) sendo que os homens completarão 7 voltas e as
mulheres 6 voltas. Diferente do ciclismo de estrada, os atletas do MTB não tem
socorro mecânico, e se acontecer algum imprevisto, precisam se virar para
chegar até o ponto de apoio.
As provas MTB serão pesadas
e exigirão muito dos atletas. O trajeto escolhido para a Rio2016 tem tudo de
melhor que o XCO pode oferecer. Como o XCO não pode ter mais do que 15% do
trajeto do circuito em terreno plano, teremos trechos de fortes subidas e
fortes descidas. Isso promete muita velocidade nas descidas e exigirá a melhor
técnica dos atletas. Nas subidas, será a capacidade de produzir potência um dos
determinantes. No nível olímpico, todos os competidores usarão o que há de
melhor em termos de equipamentos, mas será a capacidade de produzir força
rapidamente para retomadas e subidas, aliado a técnica de saltos e ultrapassagem
de obstáculos o que poderá determinar os vencedores e as vencedoras.
A biomecânica tem um papel
fundamental nisso. Ciclistas MTB possuem diferenças nos padrões de aplicação de
força no pedal e de cinemática dos membros inferiores quando comparados com
outros ciclistas de estrada. A maior amplitude de movimento do tornozelo
observada durante a pedalada de atletas MTB parece garantir uma aplicação de
força por mais tempo durante o ciclo de pedalada. Além disso, o ciclista MTB
usa mais a “puxada” do pedal em subidas, assim como para buscar saltar
obstáculos e diminuir o impacto nos trechos em que há pedras. Tudo isso
combinado com uma grande capacidade de produzir potência. Logo, muita força
muscular é exigida, e não somente nos membros inferiores. Por isso que cada vez
mais os ciclistas MTB incluem rotinas de treino de força em seus treinamentos.
Quem leva a medalha de ouro?
No masculino é tentador dizer que o favorito é Nino Shurter, o Suíço que ganhou
quase todos os campeonatos mundiais e copas do mundo da UCI nos últimos anos.
Mas é a França o país com mais tradição no XCO nos jogos olímpicos, tendo
levado medalhas em todas os jogos até agora. O principal francês no páreo é Julien
Absalon, frequentemente chamado de “o melhor de todos os tempos” e atual líder
do ranking da UCI. Eles já duelaram forte antes e talvez na Rio2016 a disputa
entre ouro e prata fique entre eles. Mas não podemos deixar de mencionar que o
campeão mundial de estrada Peter Sagan veio a Rio2016 para competir no XCO. O
Eslovaco que começou no ciclismo como atleta de MTB com vários títulos é
conhecido por sua força e impressionante capacidade de produção de potência. Embora
eu goste do Sagan, acho que ele não vem em condições de levar medalha. Henrique
Avancini que obteve a 22ª posição no mundial deste ano, a melhor da história do
Brasil no masculino, e que compete em casa, vem se preparando muito seriamente
para a prova. Eu vou apostar em Avancini brigando pelo top 10, e que sabe, uma
medalha. Estarei na torcida por ele.
Entre as mulheres, a
dinamarquesa Annika Langvad que levou o campeonato mundial desse ano e várias
etapas da copa do mundo é franca favorita. Jolanda Neff, da Suíça, que levou as
copas do mundo de 2014 e 2015 e também compete no ciclismo de estrada, está
sendo bastante cotada para vencer. Na Rio2016 ela já competiu, foi a 8ª
colocada na prova de ciclismo de estrada. Então, considerando a temporada atual,
fica fácil apostar em uma das duas para o ouro. E quem sabe nossa bicampeã
nacional e 10ª colocada no ranking mundial não faz uma prova sensacional e
belisca o pódio?
Então vamos ficar ligados, pois às 12:30h no
sábado e domingo tem MTB na Rio2016.
Prof.
Dr. Felipe Carpes
Presidente da
Sociedade Brasileira de Biomecânica
Grupo de Pesquisa em
Neuromecânica Aplicada
Universidade Federal
do Pampa
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