quinta-feira, 11 de agosto de 2016

BIOMECÂNICA NOS JOGOS OLÍMPICOS | FUTEBOL*

O Futebol Olímpico masculino é uma mistura de jogadores das categorias de base com atletas profissionais consagrados. Todos os espectadores esperam a qualidade de uma Copa do Mundo, mas muitas vezes assistimos jogos sem muita técnica. Como os atletas com idade inferior a vinte e três anos normalmente ainda não se destacaram nas principais equipes mundiais, muitas vezes as partidas apresentam surpresas interessantes. No caso brasileiro, o que vimos foi uma série de equívocos na preparação da seleção ao longo do ciclo olímpico, com uma preparação focada nas seleções de base e, no final, com a inclusão de atletas já consagrados. Há muito tempo que conclamo por uma preparação esportiva baseada na ciência para o nosso futebol, com envolvimento dos pesquisadores para auxiliar em questões biomecânicas, fisiológicas, nutricionais, psicológicas entre outras áreas. 
No caso da Biomecânica, já existem muitos trabalhos concluídos sobre aspectos físicos (distâncias percorridas, distâncias percorridas nas faixas de velocidade intensas, relação velocidade e aceleração), aspectos técnicos (padrões de movimento dos segmentos corporais durante a realização de chutes, saltos e cabeceios) e aspectos táticos (medidas de compactação da equipe e coordenação entre as equipes, determinação do sistema de jogo efetivo de cada equipe). Entretanto, ainda não conseguimos espaço adequado nas equipes nacionais para que essas variáveis sejam incluídas nos treinamentos e, principalmente, sejam fornecidas aos atletas ao longo das suas carreiras esportivas de modo a possibilitarem a melhora do seu rendimento, a diminuição das lesões e do tempo de recuperação das mesmas e da valorização dos jogadores durante as negociações de transferência ou renovação dos contratos. Isso acaba refletindo nos recentes resultados das nossas seleções em competições importantes e, com certeza, leva a um descrédito por parte do torcedor, da imprensa e do investidor. A crise que passa o futebol brasileiro não é técnica, é cultural, pois ainda temos dogmas embasando nossa preparação e a falsa tese de que o individual supera o coletivo. Mesmo assim, se tivermos humildade para os ajustes necessários na preparação da nossa equipe olímpica, podemos conquistar uma inédita medalha.
Já a seleção feminina não tem incentivo nenhum em nosso país e jogadoras como Marta e Formiga ainda carregam nosso time nas costas. Resta saber se elas, já com idade avançada, conseguirão aguentar a pressão e o desgaste cada vez maior das partidas femininas para levarem o Brasil ao tão sonhado título olímpico. Equipes como Estados Unidos e Alemanha levam vantagem significativa pelo trabalho científico que é executado com as atletas nas competições nacionais e com os investimentos realizados nas atletas. As jovens jogadoras brasileiras só tem uma alternativa: jogar no exterior, pois quase não existem competições de alto nível em nosso país. No caso feminino, inexistem pesquisas em Biomecânica que possam reverter o enorme desnível na preparação física das nossas atletas em comparação com as principais seleções do mundo.
Desta forma, a Biomecânica tem um papel importante na evolução do futebol brasileiro, seja divulgando claramente os conceitos que embasam essa ciência como força, potência, velocidade e aceleração, seja consolidando protocolos de investigação que possam contribuir com os atletas e treinadores no intuito de melhorar condições de treino e competições e ajudar o Brasil a voltar a ser protagonista no futebol mundial. Além disso, a utilização de softwares livres e do conhecimento adquirido por pesquisadores brasileiros são fundamentais para a construção de banco de dados de atletas e, através de técnicas de mineração de dados, reestruturar os treinamentos e as avaliações físicas, técnicas e táticas das nossas seleções.

Prof. Dr. Sérgio Augusto Cunha

Faculdade de Educação Física - UNICAMP


*Comentário do editor: 
Haverá duas matérias sobre futebol. Esta é a primeira.

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