O basquetebol como exemplo
para o sucesso esportivo no Brasil
Não
há espetáculo esportivo maior do que as Olimpíadas. Receber um evento desta
magnitude no Brasil é algo sensacional. Apesar de todos os pesares (gastos
demasiados, estruturas que poderão ficar subutilizadas, possíveis corrupções
associadas ao evento ou direcionamento do dinheiro investido no evento para
áreas realmente carentes do país, tais como saúde, educação e segurança), não
há como não se encantar com esta atmosfera esportiva em nosso país. Mas, o que
esperar do basquetebol brasileiro?
As
equipes masculinas e femininas encontram-se em situações bem diferentes, mas ao
mesmo tempo iguais. Diferentes, pois a base da seleção masculina foi formada
basicamente por estrelas que atuam no melhor do basquete no mundo, a NBA.
Enquanto a seleção feminina, vem de uma nova renovação de atletas que ainda
buscam por se firmar. Entretanto, ambas as equipes encontram-se em um mesmo
patamar no que diz respeito às expectativas para conseguirem medalhas, ou seja,
com probabilidade muito pequena. Como gostaria de estar errado sobre tal
afirmação!
Então,
qual a novidade no Basquetebol? Alguém se arriscaria a palpitar alguma seleção
diferente da dos EUA para conquistar o ouro tanto na modalidade masculino
quanto feminino? Particularmente, creio que os EUA ainda serão favoritos por muitos
anos. Todavia, o que ainda tem diferenciado os norte americanos das demais
equipes? Entendo que o esporte é multifatorial. Mas, creio que em termos de fatores
físicos, táticos e psicológicos, não há muita diferença entre equipes que
conseguem vaga para jogar as Olimpíadas, principalmente daquelas que conseguem
se firmar entre os 8 países no mundo. Todavia, o fator técnica ainda tem sido
determinante.
A
diferença técnica entre os EUA e os demais países ainda é muito evidente. Isso
vai desde um maior repertório de habilidades motoras para atingir o êxito nas
diversas situações do jogo, até a melhor eficácia para concretizar tais ações
de maneira bem sucedida. Hoje, não se vê mais o basquetebol como um jogo de
tabuleiros (jogo tático definindo os resultados), mas sim um jogo de força e
velocidade dependente de talentos individuais. Mas, quem poderia auxiliar no
desenvolvimento técnico de nossos atletas? O conhecimento em comportamento
motor (desenvolvimento, aprendizado e controle motor) é essencial para aumentar
o repertório motor de nossos atletas. Ao passo que, a biomecânica permitirá
lapidar tais habilidades para um nível de alto rendimento.
Tenho
estudado há mais de dez anos o arremesso no basquetebol. Apenas hoje, após
várias publicações, além da experiência atuando como técnico e atleta, posso
dizer que entendo um pouco dessa habilidade. O arremesso de jump é o mais
utilizado dentre as técnicas de arremesso, o mais eficaz (pois garante maior
altura de lançamento, rapidez, proteção contra marcação e precisão), independentemente
da posição em que o jogador atua (armador, ala e pivô). Já dizia Moacyr Daito: “o
basquetebol é uma competição de arremesso de jumps”. Entretanto, quantos
técnicos ou treinadores de basquetebol conhecem sobre esta habilidade motora? A
precisão e consistência no desempenho dos arremessos de seus atletas são
adquiridos ao acaso ou realmente com conhecimento de causa de suas intervenções?
Bem, vamos tentar entender um pouco essa habilidade motora.
Considerando
uma análise biomecânica, o arremesso de jump é determinado basicamente por três
fatores, a saber: ângulo, velocidade e altura de lançamento. Quanto maior o
ângulo de lançamento, maior o ângulo de entrada da bola na cesta e, assim,
maior a área virtual do alvo que aumenta a precisão do arremesso. Mas, para
desempenhar grande ângulo de lançamento, é necessária maior geração de velocidade.
Entretanto, o aumento na velocidade de movimento está diretamente relacionada à
maior variabilidade de movimento inter-tentativas. Assim, tem sido recomendado
o desempenho de um arremesso que garanta a menor velocidade de movimento dos
segmentos e que proporcione melhor ângulo de lançamento. Neste sentido, o
aumento da altura de lançamento é fator preponderante, pois diminui a
velocidade de movimento e aumenta o ângulo de lançamento da bola.
Acima resumi apenas três fatores que devem
ser resultado da coordenação dessa habilidade motora complexa. Essa coordenação
também possui suas especificidades, de acordo com as características de seus
atletas e ambiente/situação. O grande desafio, entretanto, não é apenas a
coordenação apropriada (padrão do arremesso). Adaptar o padrão de movimento às
diversas restrições a ele submetidas no jogo e, principalmente, manter sua
consistência ao longo de todo o jogo é o maior desafio. Essa é uma conversa um
pouco mais longa para resumir aqui (coordenação e controle motor do arremesso).
Todavia, entendo que outro fator determinante no desempenho é a especificidade
no treinamento.
É muito comum encontrarmos no basquetebol, e
em outras modalidades, o treinamento ser realizado com características de
habilidades motoras de ambiente fechado (sem imprevisibilidade no ambiente).
Enquanto, o jogo, na verdade, é puramente de característica aberta (com
imprevisibilidade no ambiente). Por exemplo, atletas tendem a treinarem séries
longas de arremessos parados, sem restrição de tempo para arremessar, sem
marcação ou qualquer tipo de pressão psicológica. Isso é justamente o contrário
do que ocorrerá no jogo. Neste sentido, não é difícil entender porque ainda em
alto nível encontramos os famosos “leões de treino” (atletas que são perfeitos
durante os treinamentos mas possuem péssimo desempenho nos jogos e nas
competições).
A partir das poucas ilustrações realizadas é
possível entender parte dos motivos que nos distanciam de medalhas olímpicas no
basquetebol, ou mesmo de um desempenho admirável. O Brasil necessita de uma
política pública esportiva. Entendo que o fortalecimento do esporte na escola
seria o primeiro passo para a massificação esportiva. Posteriormente, seria
necessária a criação de centros de treinamentos especializados, com avaliações
e treinamentos embasados cientificamente. Isso tudo sustentando uma real
profissionalização do esporte. Por fim, como resultado, teríamos a
transformação do esporte em espetáculo, fato que garantiria a sua própria
sustentabilidade. Nesse sentido, o basquetebol, mais especificamente o modelo
que encontramos na NBA (ou qualquer outro esporte norte americano), é o melhor
exemplo para o sucesso esportivo para o Brasil. Minhas palavras seriam apenas
suposições se não fosse justamente a estratégia concretizada pela China nos
últimos anos, fato que a transformou na segunda/primeira maior potência
esportiva no mundo.
Enquanto o Brasil não desperta para uma
política pública esportiva, pelo menos ainda temos o privilégio de vermos
alguns atletas brasileiros ‘expoentes’ atuando na NBA. Chamo de ‘expoentes’,
pois conseguir chegar à NBA com a estrutura esportiva que possuímos no Brasil,
somente tendo muito diferencial, fato que reforça que talentos o Brasil possui.
Apenas precisamos de uma melhor gestão esportiva.
Prof. Dr. Victor Hugo Alves
Okazaki
Graduado
em Licenciatura Plena em Educação Física (UFPR)
Especialista
em Treinamento Desportivo (Faculdades Dom Bosco)
Especialista
em Ergonomia (UFPR)
Mestre
em Biomecânica (UFPR)
Doutor
em Biodinâmica (USP)
Professor
Adjunto da Universidade Estadual de Londrina
Professor
orientador em nível de Mestrado e Doutorado na PPGEF (UEM/UEL)
Coordenador
do Laboratório de Pesquisa e Ensino em Biomecânica (LAPEB)
Coordenador
do Grupo Neurociências Motoras (NEMO)
Coordenador
do Programa de Educação Tutorial da Educação Física (NEMO)
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