segunda-feira, 8 de agosto de 2016

BIOMECÂNICA NOS JOGOS OLÍMPICOS | BASQUETEBOL

O basquetebol como exemplo para o sucesso esportivo no Brasil

        Não há espetáculo esportivo maior do que as Olimpíadas. Receber um evento desta magnitude no Brasil é algo sensacional. Apesar de todos os pesares (gastos demasiados, estruturas que poderão ficar subutilizadas, possíveis corrupções associadas ao evento ou direcionamento do dinheiro investido no evento para áreas realmente carentes do país, tais como saúde, educação e segurança), não há como não se encantar com esta atmosfera esportiva em nosso país. Mas, o que esperar do basquetebol brasileiro?
        As equipes masculinas e femininas encontram-se em situações bem diferentes, mas ao mesmo tempo iguais. Diferentes, pois a base da seleção masculina foi formada basicamente por estrelas que atuam no melhor do basquete no mundo, a NBA. Enquanto a seleção feminina, vem de uma nova renovação de atletas que ainda buscam por se firmar. Entretanto, ambas as equipes encontram-se em um mesmo patamar no que diz respeito às expectativas para conseguirem medalhas, ou seja, com probabilidade muito pequena. Como gostaria de estar errado sobre tal afirmação!
        Então, qual a novidade no Basquetebol? Alguém se arriscaria a palpitar alguma seleção diferente da dos EUA para conquistar o ouro tanto na modalidade masculino quanto feminino? Particularmente, creio que os EUA ainda serão favoritos por muitos anos. Todavia, o que ainda tem diferenciado os norte americanos das demais equipes? Entendo que o esporte é multifatorial. Mas, creio que em termos de fatores físicos, táticos e psicológicos, não há muita diferença entre equipes que conseguem vaga para jogar as Olimpíadas, principalmente daquelas que conseguem se firmar entre os 8 países no mundo. Todavia, o fator técnica ainda tem sido determinante.
        A diferença técnica entre os EUA e os demais países ainda é muito evidente. Isso vai desde um maior repertório de habilidades motoras para atingir o êxito nas diversas situações do jogo, até a melhor eficácia para concretizar tais ações de maneira bem sucedida. Hoje, não se vê mais o basquetebol como um jogo de tabuleiros (jogo tático definindo os resultados), mas sim um jogo de força e velocidade dependente de talentos individuais. Mas, quem poderia auxiliar no desenvolvimento técnico de nossos atletas? O conhecimento em comportamento motor (desenvolvimento, aprendizado e controle motor) é essencial para aumentar o repertório motor de nossos atletas. Ao passo que, a biomecânica permitirá lapidar tais habilidades para um nível de alto rendimento.
        Tenho estudado há mais de dez anos o arremesso no basquetebol. Apenas hoje, após várias publicações, além da experiência atuando como técnico e atleta, posso dizer que entendo um pouco dessa habilidade. O arremesso de jump é o mais utilizado dentre as técnicas de arremesso, o mais eficaz (pois garante maior altura de lançamento, rapidez, proteção contra marcação e precisão), independentemente da posição em que o jogador atua (armador, ala e pivô). Já dizia Moacyr Daito: “o basquetebol é uma competição de arremesso de jumps”. Entretanto, quantos técnicos ou treinadores de basquetebol conhecem sobre esta habilidade motora? A precisão e consistência no desempenho dos arremessos de seus atletas são adquiridos ao acaso ou realmente com conhecimento de causa de suas intervenções? Bem, vamos tentar entender um pouco essa habilidade motora.
        Considerando uma análise biomecânica, o arremesso de jump é determinado basicamente por três fatores, a saber: ângulo, velocidade e altura de lançamento. Quanto maior o ângulo de lançamento, maior o ângulo de entrada da bola na cesta e, assim, maior a área virtual do alvo que aumenta a precisão do arremesso. Mas, para desempenhar grande ângulo de lançamento, é necessária maior geração de velocidade. Entretanto, o aumento na velocidade de movimento está diretamente relacionada à maior variabilidade de movimento inter-tentativas. Assim, tem sido recomendado o desempenho de um arremesso que garanta a menor velocidade de movimento dos segmentos e que proporcione melhor ângulo de lançamento. Neste sentido, o aumento da altura de lançamento é fator preponderante, pois diminui a velocidade de movimento e aumenta o ângulo de lançamento da bola.  
Acima resumi apenas três fatores que devem ser resultado da coordenação dessa habilidade motora complexa. Essa coordenação também possui suas especificidades, de acordo com as características de seus atletas e ambiente/situação. O grande desafio, entretanto, não é apenas a coordenação apropriada (padrão do arremesso). Adaptar o padrão de movimento às diversas restrições a ele submetidas no jogo e, principalmente, manter sua consistência ao longo de todo o jogo é o maior desafio. Essa é uma conversa um pouco mais longa para resumir aqui (coordenação e controle motor do arremesso). Todavia, entendo que outro fator determinante no desempenho é a especificidade no treinamento.
É muito comum encontrarmos no basquetebol, e em outras modalidades, o treinamento ser realizado com características de habilidades motoras de ambiente fechado (sem imprevisibilidade no ambiente). Enquanto, o jogo, na verdade, é puramente de característica aberta (com imprevisibilidade no ambiente). Por exemplo, atletas tendem a treinarem séries longas de arremessos parados, sem restrição de tempo para arremessar, sem marcação ou qualquer tipo de pressão psicológica. Isso é justamente o contrário do que ocorrerá no jogo. Neste sentido, não é difícil entender porque ainda em alto nível encontramos os famosos “leões de treino” (atletas que são perfeitos durante os treinamentos mas possuem péssimo desempenho nos jogos e nas competições).
A partir das poucas ilustrações realizadas é possível entender parte dos motivos que nos distanciam de medalhas olímpicas no basquetebol, ou mesmo de um desempenho admirável. O Brasil necessita de uma política pública esportiva. Entendo que o fortalecimento do esporte na escola seria o primeiro passo para a massificação esportiva. Posteriormente, seria necessária a criação de centros de treinamentos especializados, com avaliações e treinamentos embasados cientificamente. Isso tudo sustentando uma real profissionalização do esporte. Por fim, como resultado, teríamos a transformação do esporte em espetáculo, fato que garantiria a sua própria sustentabilidade. Nesse sentido, o basquetebol, mais especificamente o modelo que encontramos na NBA (ou qualquer outro esporte norte americano), é o melhor exemplo para o sucesso esportivo para o Brasil. Minhas palavras seriam apenas suposições se não fosse justamente a estratégia concretizada pela China nos últimos anos, fato que a transformou na segunda/primeira maior potência esportiva no mundo.
Enquanto o Brasil não desperta para uma política pública esportiva, pelo menos ainda temos o privilégio de vermos alguns atletas brasileiros ‘expoentes’ atuando na NBA. Chamo de ‘expoentes’, pois conseguir chegar à NBA com a estrutura esportiva que possuímos no Brasil, somente tendo muito diferencial, fato que reforça que talentos o Brasil possui. Apenas precisamos de uma melhor gestão esportiva.


Prof. Dr. Victor Hugo Alves Okazaki
Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (UFPR)
Especialista em Treinamento Desportivo (Faculdades Dom Bosco)
Especialista em Ergonomia (UFPR)
Mestre em Biomecânica (UFPR)
Doutor em Biodinâmica (USP)
Professor Adjunto da Universidade Estadual de Londrina
Professor orientador em nível de Mestrado e Doutorado na PPGEF (UEM/UEL)
Coordenador do Laboratório de Pesquisa e Ensino em Biomecânica (LAPEB)
Coordenador do Grupo Neurociências Motoras (NEMO)
Coordenador do Programa de Educação Tutorial da Educação Física (NEMO)

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