O Brasil certamente nunca foi uma potência do
Atletismo mundial, mas já viveu anos melhores. São 14 medalhas para o país em
todas as edições dos jogos, das quais quatro foram de ouro, três de prata e
sete de bronze. Importante destacar a tradição do salto triplo brasileiro, com
os saltadores como Ademar Ferreira da Silva (ouro e 1952 e 1958), Prudêncio
(prata em 1968 e bronze em 1972) e João Carlos de Oliveira – João do Pulo –
(bronze em 1976). Entre os corredores, destaca-se Joaquim Cruz, medalha de ouro
nas olimpíadas de 1984 e prata em 1988. Além deste, Zequinha Barbosa nos 800 m
e Robson Caetano medalharam em 1988. Este último, inclusive, é detentor do
recorde brasileiro nos 100 m rasos (10s00) que perdura por 27 anos. Mais
recentemente, tivemos as conquistas de medalhas de bronze e prata em 1996 e
2000, respectivamente, no revezamento 4 x 100m. A única e histórica conquista
no Atletismo feminino foi o ouro de Maurem Magi no salto em distância, nas
olimpíadas de Pequim, 2008.
Mas na Olimpíada do Rio 2016, haverá possibilidades
de medalhas para Brasil no Atletismo? Pode-se dizer que sim, mas se resumem
basicamente a duas atletas: Fabiana Murer, do salto com vara e Keila Costa, do
salto em distância e triplo. Na equipe masculina, a maratona sempre revela
algum destaque brasileiro, porém dificilmente haverá medalhas neste ano.
Já o cenário internacional é historicamente
dominado pelos Estados Unidos, são mais de 700 medalhas na história. No
entanto, a sensação mundial do momento é a equipe Jamaicana, com destaque é
claro para os atletas da velocidade. Os jamaicanos vêm dominando tais provas
nos naipes masculino e feminino. E a tradicional e glamorosa prova dos 100 m
rasos, quem ficará com o ouro? Entre os homens, tem-se dois jamaicanos na
disputa: obviamente, a lenda Usain Bolt e o jovem Yohan Blake. Porém, talvez o
principal adversário para Bolt será o experiente americano Justin Gatlin, de 34
anos, que vem com sede de vitória. Bolt fará ainda mais história se vencer os
100 m rasos, será o primeiro a vencer três edições seguidas da prova. Porém, as
últimas lesões preocupam o jamaicano, mas ninguém ousa duvidar da lenda das
pistas. Nos 200 m rasos, outra especialidade de Bolt, o mesmo deverá confirmar
a medalha de ouro.
Com o crescimento do olimpismo e a
profissionalização no esporte nas últimas décadas, a preocupação com o
desempenho dos atletas tornou-se uma necessidade entre treinadores. E como a
Biomecânica contribuiu e contribui para melhorar o desempenho dos atletas? Umas
das formas mais importantes é com a avaliação da técnica esportiva,
principalmente em esportes individuais como o Atletismo, de caráter
eminentemente técnico. Nos Jogos Olímpicos de 1968 Dick Fosbury venceu a prova
do salto em altura ao projetar-se de costas, uma técnica inovadora para a época.
Mais tarde, análises biomecânicas mostraram sua eficiência pelo fato do centro
de gravidade passar por baixo do sarrafo no momento do salto. Atualmente,
pequenos detalhes técnicos fazem a diferença entre o primeiro e último lugar em
uma prova. Assim, análises cinemáticas permitem detalhar o gesto técnico do
atleta, que não seria possível a olho nu. Tal análise possibilitará ao
treinador intervenções para aperfeiçoar o gesto de modo a alcançar níveis mais
elevados.
Tomando como exemplo as corridas, uma técnica
consolidada resultará em um corredor mais rápido e mais eficiente. Dois
parâmetros biomecânicos amplamente analisados são a amplitude e frequência das
passadas, que são determinantes da velocidade de deslocamento. Um dos
principais diferenciais de Usain Bolt é possuir grande amplitude de passada (em
função do comprimento de seu membro inferior) e elevada frequência de passada
(possibilitada pela sua elevada potência muscular). Análises da curva de
velocidade, o que podemos considerar uma análise cinemática, evidenciam que o
grande determinante de velocista Usain Bolt nos 100 m rasos é a menor
desaceleração ao final da prova.
Desta forma, verifica-se que a Biomecânica é uma
ferramenta indispensável para a avaliação da técnica no Atletismo, o que
consequentemente implicará no desempenho. Certamente o conceito de avaliação
biomecânica é algo bastante amplo. Com o avanço tecnológico verifica-se
constantemente novas tecnologias que estão sendo utilizadas em Biomecânica do
Esporte, colaborando para o progresso e modernização esportiva.
Prof. Dr. Juliano Dal Pupo
Universidade Federal de Santa Catarina
Membro do Laboratório de Biomecânica
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